Histórias da Rede

A 1ª viagem ou tudo que você queria saber sobre atrasos mas não tinha a quem perguntar
Por Neto

Como vocês perceberam na 1ª parte, atraso é algo muito comum nas histórias da Rede Berel. Na edição de novembro, nossos heróis, após uma busca de mais de 2 horas, localizaram o local onde deveria estar estacionado o carro (se é que podíamos chamar aquela Brasília de carro), porém, cansado de esperar pelos amigos, conclui que eles já deviam ter voltado de carona com o Jorge e o Russo e voltei acompanhado pelo casal Dena e Gaio. Como vocês perceberam, isso não tinha ocorrido o que gerou pelo menos uma semana de “bico” entre os participantes do evento, mas, entre mortos e feridos, sobreviveram todos.

No carnaval daquele mesmo ano (1995), Russo já tinha programado uma viagem para a cidade de Navegantes em Santa Catarina e convidou a mim e ao Fábio. Como o Fábio não teria folga naquele feriado e eu não conhecia ninguém do pessoal, com exceção do Russo, pedi para que o Jorge também fosse. Desta forma eu não ficaria deslocado no passeio. Tudo acertado, passagens compradas, combinamos de se encontrar na Rodoviária, na plataforma de embarque, meia hora antes da partida do ônibus.

Eu, no horário marcado estava lá. Procurei pelos meninos: Jorge, Russo e Sílvio, este último eu tinha visto apenas uma vez antes daquele dia, e nada de encontrá-los. Como havia pelo menos uma hora para o horário de partida, sentei em um canto e os aguardei. O tempo foi passando e nada desta turma chegar. Sempre de olho na plataforma comecei olhar as pessoas tentando descobrir quais delas pertenciam ao nosso grupo, pois além de nós quatro, havia mais alguns amigos de Jorge e Russo.

Quando faltavam cinco minutos para o embarque resolvi me apresentar (havia uma moça que eu já havia visto antes e deduzi que deveria estar no nosso grupo). “- Oi! Vocês estão esperando o Jorge, o Russo e o Sílvio?” Como a resposta foi positiva, eu contei rapidamente minha história e me apresentei a todos, eram no total 18 pessoas e todos também estavam preocupados com o atraso daqueles três.

Para a sorte de todos o ônibus também estava atrasado. Quinze minutos depois chegam os três correndo feito loucos e contavam uma história estranha que envolvia McDonald´s e táxi. Após as devidas explicações e como eu já estava “apresentado” mesmo, aguardamos o ônibus ansiosamente. Meia hora se passou e nada de ônibus, a Rodoviária estava super lotada (por causa do feriado) e o calor era insuportável. Eu e Jorge resolvemos comprar algumas cervejas, a contragosto de todos pois o ônibus poderia chegar, saímos a procura das “loiras” geladas e tivemos que aguardar numa fila enorme para conseguirmos cerveja morna e o pior, o ônibus já havia encostado e só faltava nós dois.

Como Russo já dizia naquela época, isto é bobagem. Finalmente a caminho das praias de Santa Catarina. No início era tudo bom, mas depois de algumas horas, o pequeno rádio-gravador de Jorge Luis começava a incomodar. Não pela música mas pelo tamanho mesmo. Devíamos ter comprado uma passagem só para transportá-lo. Mesmo com o incômodo do equipamento de som, a viagem transcorreu bem até a divisa entre o estado do Paraná e Santa Catarina, pois, devido à queda de barreiras (havia chovido muito naquela semana) a viagem que seria de 6 oito horas se estendeu para 11.

Após 11 horas dentro de um ônibus e com um assento a menos - tivemos que fazer um rodízio para carregar o rádio-gravador - chegamos ao nosso destino, ou melhor quase. Ainda tínhamos que pegar uma balsa, que perdemos por um minuto, e após isto pegar outro ônibus, que perdemos por uma balsa.

Após encontros e desencontros chegamos a pequena praia de pescadores onde passaríamos aquele carnaval. Foram 3 noites e dois dias inesquecíveis, com direito a baile de carnaval, bebedeiras homéricas, banhos de ma noturnos sem roupa e até um passeio no maravilhoso mundo de Beto Carrero e, acreditem se quiser, sem nenhum tipo de atraso. Porém teve um fato muito engraçado que envolveu a mim e ao Jorge Luis ainda na primeira noite. Estávamos tomando as últimas cervejas no baile de carnaval quando ao acaso conhecemos duas garotas. Até ai tudo bem, porém uma das meninas resolveu entrar em coma alcoólico e lá vou eu, com o dono do bar socorrer a garota. Como no carro não caberia nós dois, Jorge Luis voltou para casa e resolveu me aguardar na rede estendida na varanda. Algumas horas depois, chego em casa e percebo que o Jorge dorme na varanda e vou acorda-lo. Eu já estava conversando com ele por aproximadamente 5 minutos quando ele percebeu que eu já tinha chegado e me inundou de perguntas sobre a garota. Só o Jorge mesmo.

Terça-feira, dia de voltarmos, arrumamos tudo, o último banho de mar, fechamos a casa e fomos para estrada de novo. Esperamos aproximadamente 2 horas até percebermos que chegamos tarde demais para pegarmos o ônibus que nos levaria até a rodoviária (a propósito as passagens já estavam compradas, ou seja, tínhamos horário de partida marcado). A solução foi alugar o primeiro caminhão que vimos, fizemos a famosa “vaquinha” e choramos muito para que um senhor nos levasse pelo menos até a balsa do rio Itajaí. Desta vez não perdemos a balsa, mais foi por alguns segundos. Do outro lado do rio, percebemos que não teria outra saída a não ser pegarmos um táxi, quero dizer três, até a rodoviária e chegamos todos esbaforidos com o ônibus de porta fechada preparando para sair da plataforma. Cinco minutos após a partida do ônibus, nós ainda estávamos ofegantes com a corrida, nosso ônibus se envolve em um acidente com um ciclista arremessando‑o em um córrego na lateral da pista. É lógico que tínhamos que ajudar. Pulamos literalmente na lama para retirarmos o ciclista. Enquanto esperávamos outro ônibus conhecemos uma boa alma que nos emprestou sua casa para que pudéssemos tomar um banho, bem rápido por sinal, pois, em meio à espuma de sabão ouvimos uma voz nos apressando dizendo que o ônibus havia chegado e queria partir sem a gente. Correria novamente. Pelo menos desta vez a viagem foi rápida.

Finalmente chegamos a Curitiba (é amigo leitor eu me esqueci de dizer mais não havia mais passagens direto para São Paulo partindo de Navegantes) e corremos para comprar passagens para São Paulo. Descobrimos que teríamos 3 horas para embarcar no ônibus que nos traria de volta a São Paulo e o diabinho começou soprar em nossos ouvidos: “‑ Vamos conhecer o centro de Curitiba”, alguém disse para fúria de Silvio que não queria que ninguém saísse do terminal rodoviário, depois de tudo que já havia acontecido, ele tinha toda razão, mas, na Rede Berel, as coisas não acontecem de forma lógica, um grupo se dividiu e resolveu jantar no McDonald´s. É lógico que alguém se perdeu (este que vos escreve) e lá se foram mais duas corridas de táxi novamente. Pelo menos desta vez não chegamos atrasados para o embarque, faltava um minuto inteiro ainda.

Após tudo isso chegamos em casa na manhã da quarta-feira de cinzas, cansados porém contentes. Na primeira reunião do grupo (aquela que todo mundo faz para ver as fotos) resolvemos que se viajássemos novamente seria de carro. Com certeza seria menos problemática. Triste ilusão....